sexta-feira, dezembro 30, 2011

• Talvez


Talvez fosse só um dia qualquer, só mais um dia, só mais uma musica, só mais uma vez achando que nada a gente deve achar que é parar sempre, talvez!
Deitado estava lá, por debaixo do tronco de Ipê roxo, cigarro de palha entre os dedos, o Sol estalando forte contra seus olhos, a sombra estava cada vez mais curta, era inútil procurar algum lugar fresco em que pudesse refugiar sua alma daquele brilho cálido e sem piedade do Sol, o vento vez ou outra assoviava por entre as árvores, não havia nuvens, na verdade havia, mas não faziam diferença.
Rolou para lá, para cá, deu com ombros, soltou aquele suspiro, aliviou a pressão de seu cinto, queria descansar, queria refugiar, mas desde quando podemos nos refugiar daquilo que nos cerca, desde quando podemos deixar as coisas que não nos fazem bem e correr, jogar pro alto e dizer adeus, deixar o vento levar, falando em vento, há alguns minutos nem uma brisa tinha passado, o calor exaustivo, apanhou seu cantil que trazia sempre consigo, mas já estava no fim, duas ou três gotas caíram e ele apenas molhou os lábios. Pensativo, e num silencio ensurdecedor apenas ouvia o riacho tranquilo e calma e as gaivotas à gaivotarem no céu anil e brilhante. Retomou os pensamentos.
Na verdade posso ser livre, basta querer, basta se permitir, não sei se devo, é tão confortável viver na zona de conforto, é tão bom não se mexer e deixar as coisas seguirem seu próprio rumo, tudo era inevitável, ou não, só um talvez.
Talvez ele pudesse como gaivota voar pelo céu, mas se lembrou de Ícaro e pensou melhor, talvez como um peixe pudesse mergulhar no mais profundo do riacho, por de baixo das pedras lisas de limo e se esconder, viver ali na beira da solidão e da escuridão, cercado por tudo aquilo que ele precisa, sem viver os riscos da vida, talvez seria bom.
Talvez ficar ali estendido sob o sol das 4 e deixar o vento vez ou outra te refrescar seria bom, só um talvez.


Thiαgo Ψ

terça-feira, dezembro 27, 2011

• Desajustado Noturno


Chegou, aquele moço de longo topete e óculos escuros escondendo as olheiras de uma noite mal dormida, de um bicho noturno que perambula sob os raios do Sol, não estava acostumado, era um desajustado noturno, não sabia amanhecer.
Com mãos tremulas, bebericava aquela bebida, com mãos tremulas tragava o seu cigarro, a fumaça dançava no ar, como uma bailarina desabrochando passos no imenso palco. Estava ali parado, só queria colocar a cabeça em ordem, a última noite foi tão amedrontadora, foi tão complexa.
Repousara o envelope que trazia em suas mãos, encarava-o, fitava-o como quem temia, estremecia e até mesmo empalidecia, suava frio como quem estava em sauna.
Era chato estar ali, inútil pensamento aquele de querer se afastar, não podia, na verdade poderia, mas jamais quis, tinha prazer em sofrer, tinha prazer em cair numa noite cheia de pecados e malicias e andar, entregar, beber da cicuta.
Se matar, e no outro dia amanhecer vivo, ou nem amanhecer, esperar pelo relógio despertar de noite, almoçar enquanto jantam, tomar seu café quando estão embebedados de sono, sair e despertar, enquanto outros estão recolhidos em suas tabas.
Abriu com ferocidade o envelope branco, retirou de dentro aquilo que parecia um exame, olhos correram e num suspiro cortado quase desfaleceu, soro positivo.
Aquele garoto, que terminou seu café e afogou se cigarro dentro do copo, cortando o dobrado da fumaça que ali pairava, na penumbra ele sentiu, pressentiu e viu. Levantou-se jogou o dinheiro com direito a caixinha para o garçom, apenas estalou os dedos, girou nos calcanhares e saiu, seus sapatos Salvatore deixavam no ar o barulho de quem seguro de si sabia o que queria e que estava pronto a enfrentar a vida.


Ps: Graças a Caroline Pereira, voltei a postar e espero continuar, um beijo!

Thiαgo Ψ

sábado, dezembro 24, 2011

• Solenidades


Já era Dezembro, as ruas todas repletas de enfeites e decorações, o vermelho sempre ornando com o verde e vice versa.
As pessoas em seus afazeres, na cozinha, no mercado, no shopping, no transito infernal desse clima natalino, presente, roupas, consumismo e acima de tudo uma boa dose de boa vizinhança que apenas reina nessa época, nem na noite de reveillon vejo tanta bondade no ar, as pessoas menos estressadas, as empresas entregando cestas contendo os mais variados sabores do natal.
A família então, parece que nunca houve uma intriga, os presentes por debaixo da árvore e toda aquele movimento para fazer o peru e o manjar, gostos que só temos essa época, o panettone sobre a mesa, nos recorda que em todos os anos é a mesma coisa, a mesma cerimonia, as mesmas solenidades. Não gosto.
Mas nada melhor do que aquela ceia, cheia de presentes, bebidas dos mais diversos tipos, Simone com sua clássica - Então é Natal - nos convence de que por mais ruins que possamos ser, brincar de ser feliz e de que ama a todos também pode ser divertido! que todos se reúnem em volta da mesa, em volta da bebida, em volta dos presentes. Nada pior que tirar aquele tio que você odeia no amigo oculto, nada pior do que ganhar aquele suéter cor-de-coco da sua avó que ainda fala: Como você cresceu!. Todo ano. Nunca muda, sempre vai ser assim, pobres mortais que vivem o ano todo na amargura de uma vida social sem escrúpulos, numa noite regida por luzes e abraços comemorativos!
- Feliz Natal -

Thiαgo Ψ

quarta-feira, setembro 07, 2011

• Aquele Gosto




- Sabe aquele beijo que faz você parar e pensar um dia inteiro...

Não era o melhor de todos, não tinha jeito, não tinha "pegada", não tinha muita coisa. Era totalmente puro, sem loucura, sem qualquer tipo de malícia, sei lá, por mais que eu goste da malícia, neste não tinha.
Tinha uma puta verdade sentimental, tinha tudo pra ser aquela bosta, mas não foi. Por mais demorado, rápido, demorado, rápido e demorado. Tinha sim a transmissão mais gostosa que um dia eu pude imaginar, tinha sim todo sentimento. Creio que fora por mera obra do filha da puta do destino, não era conhecido, não era amigo, não era porra nenhuma e de repente virou.
Mas por que caralhos tinha que ser tão difícil, às vezes lutar por algo em vão não vale a pena, ou vale!
Sei que ainda mesmo após meses, o gosto guardado daquela noite, o gosto daquilo tudo que ocasionalmente aconteceu, talvez mesmo após anos o gosto que está perpetuado em meus lábios ainda irão me fazer lembrar o quanto é bom, não foi o melhor, não foi o mais ousado, muito menos o mais quente, também não fora tão gelado como tal descrição, mas a diferença sempre é o sentimento, sem ele é só mais uma aventura, mas com ele é tudo de novo sempre. O coração ainda descompassa, a cabeça sempre vai a mil por hora, o corpo tenta esconder sempre, com desculpas e palavras vazia aquilo que a alma não tem medo de mostrar, acho patético.
A realidade do ser humano é ridícula, o sentimento então, esse eu não comento. Eu deixo que cada um descubra, o amor jamais acaba, apenas muda de intensidade, assim como o bipolar tem seus extremos, o amor poderia ter comparado a ele, ora no extremo limite irracional e ora na mais pura e existente razão prática.
Nem chocolates, nem outros focos, relações descompromissadas apenas tardam todo o furacão que existe, o vulcão que a qualquer momento entra em atividade. No mais, tudo sempre esta bem, tudo sempre esteve bem e vai continuar bem.
Marcado como fotografia, sempre estará do lado esquerdo de meu peito, mesmo que por dias eu esqueça, por anos eu lembrarei.


Thiαgo Ψ

sexta-feira, setembro 02, 2011

• Winter


Por entre ruas geladas, vaguei sem lar.
Estava ali, acolá, sentado. Estava andando ali, estático estado espiritual e centrípeto movimento corporal, é engraçado a gente às vezes esquece que o frio arde contra a pele, assim como o amor arde contra o coração.
O frio, estava ali, apenas admirando os letreiros luminosos, os faróis vertiginosos e toda aquela população que já aprontara para o recolher, estava tudo tão bem. O mundo sempre foi mundo, nunca mudou e não para de mudar, é complicado.
Estático sob o gélido vento que ali se contrariava as folhas caídas do chão, como um varrer dolorido que passa pelo coração e leva tudo. Deixa apenas o necessário, necessário para não sofrer. Sempre o frio, eu odeio o frio e odeio o coração também, maldita hora que fomos ter um e maldita hora que fomos ser sensíveis ao ar gélido. Ah sabe eu penso, não só penso, eu sei! eu sinto na verdade, a questão é que está em mim. Não está nos outros, sempre em mim.
Porém sempre após grandes noites frias, assim como após muitas tempestades, sempre vem a bonança, sempre vem o conforto. A esperança, ah essa eu dispenso! Quero bem longe de mim, agora eu quero um amor, uma nova paixão, um fogo que me aqueça nesses dias frios. Quero apenas um nada, ou um tudo. Sei lá. Eu só sei que quero, e quero pra já! detesto esperar, não suporto. Mas sempre vem, eita Sol maravilhoso esse que agora raia por entre cortinas cerradas da janela, eita céu anil abençoado que nutre grande inspiração poética. As estrelas foram embora, levando consigo o frio da noite, o Sol apareceu e com ele o calor praiano e a diversidade das flores, vieram a brotar no deserto de emoções e sem cor.

Thiαgo Ψ

domingo, agosto 21, 2011

• Intitulação Anônima


Desliguei o Celular.
Tive ímpetos de religá-lo, algum sms?
Não nenhum! Você não liga, nem eu! Dizem que os meninos mandam mensagem enquanto os homens ligam e quem não faz nem um e nem outro? É o que? A vontade que tenho é de gritar, gritar mesmo sem medo! Gritar pra tudo aqui, dizer que tenho vontade de te morder pra valer! Arrancar pedaço, ter um pedaço seu aqui comigo, mas não tenho, não tive essa sorte! Você é bom demais pra mim, eu não me mereço sei! Mas que Ca-ra-lhos, por que você também não me merece! Correr e sempre ligar, ou até uma janela piscar, sei lá!
Estranho será o dia em que eu não me apaixonar por você! É muito engraçado isso sabe! Eu não sei mesmo, não sei e não sei! Você é um burro, chato, uma mula! Eu te odeio, sinceramente eu não acredito como pude me apaixonar por você, você é ridículo! Eu te detesto, mas penso que jamais viveria sem você, é incrível como detesto seu jeito estúpido, mas confesso que acordei achando tudo diferente, você consegue com o celular me fazer rir ou acabar com o meu dia! Ah sinceramente vá se fuder amigo, ou vem-me fuder de uma vez! Decidi cacete, eu quero, mas o maldito cú
-doce que você faz e nunca damos o braço a torcer... Confesso que também faço um doce de vez em quando, mas é de vez em quando, você é todo dia! Eu não sei mais o que quero sinceramente, eu apenas quero você. Deixa eu ter você? É dilacerante ao espírito! Não sei como, só sei que sei! Ou não sei
!

Thiαgo Ψ

quinta-feira, julho 28, 2011

• Folhas Secas

- A certeza não era certeza, assim como o sonho não era sonho -

Estava deitado, assim como qualquer outro dia de outono, edredom até as orelhas.
Não sabia se algum dia eu iria levantar dali, ultimamente tenho tido tanta vontade de deitar e de ficar descansando por tantas horas, não sei o que me acometia.
Levantei, capotei-me ao máximo, luvas, cachecol, blusão, tudo! Eu iria por ali, iria pela rua, subiria o morro, desceria a ladeira, não queria chegar a lugar algum. Tinha combinado com minha amiga de encontra – lá, mas não sei, não queria ir. Tomei o rumo da sua casa, por entre colinas, vales, lugares negros, lugares claros, o Sol coitado, tão vergonhoso por trás das montanhas.
O vento batia contra minha pele, ressecando meus lábios, era bom. O mesmo que batia contra minha face, rebatia contra as folhas das árvores, que majestosamente caíam ao chão, num barulho seco e rolavam por entre o asfalto. As lojas estavam fechadas, era incrível, não era natal, muito menos ação de graças. Mas continuei a caminhar ninguém habitava as ruas, as construções, tudo tão gelidamente seco.
A figura encapuzada aproximou-se, apesar de tê-la visto ao longe, não mudei meu rumo, eu sabia que ela iria passar por mim e algo aconteceria, não sei se seria bom, mas ah que se foda! Não mudo meu rumo e ponto!
Aquela figura, preta e encapuzada veio na minha direção, um frio me abatia, pensei ter entrado no pesadelo, mas não, era realidade. Eu acho.
Ela parou na minha frente, era serena... Não sabia quem era, tinha os olhos vendados, vestia a capa preta. Foi tão solicita e gentil que encantei-me. Ela abriu sua capa e vi tudo que havia acontecido na minha vida, vi tudo o que tinha sido feito, o sentimento de que valeu a pena atinou sobre mim. Me estendeu a mão, seca como se nunca se alimentasse, mas em vista de toda sua gentileza peguei e caminhamos em direção a ponto algum.
Naquele quarto em que estava, apenas remexi levemente e um suspiro entreaberto saiu de meus pulmões. Descansava tranquilamente em paz.


Thiαgo Ψ

sábado, julho 23, 2011

• Narciso.

-Os olhos enxergam apenas aquilo que querem-


O espelho refletia. Refletia a verdade? ou apenas refletia o que eu gostaria de ver?
Não fazia a mínima ideia do que significaria de verdade o espelho, tão normal quanto qualquer pedaço de vidro que possa ter reflexo, mas é mesmo intrigante, profundamente avassalador.
Pensar que por trás de um pedaço de vidro espelhado possa haver outra existência. Já que quando usa-se o espelhamento para impedir que vejamos o outro lado.
Muito curioso, como surgiu?
O bom é pensar que naquele espelho, se houver outra dimensão, por trás daquele vidro espelhado, todos já te viram: Feio, arrumado, nu, de cabelo molhado, seco, gordo.. Inúmeros modos de uma pessoa estar!
E os seus defeitos da pele? todos que por trás daquele vidro espelhado estão, já viram seus piores defeito, ainda mais quando você acorda sem a maquiagem, ou pior, quando você esquece e dorme de maquiagem e acorda aquele monstro (rs).
Apesar de que todos devem estar impressionados com tamanha beleza por trás daquele vidro, já que muitas vezes passo horas e horas olhando, encontrando cada defeito, valorizando cada traço.
-Bom saber! Jamais voltarei a olhar no espelho sem estar arrumado!
O Que os seres da dimensão espelhada irão pensar de mim? -NADA
Ora, eles devem ter a consciência de que eu nunca soube da existência dessa dimensão e perdoam cada gafe minha diante do maravilhoso reflexo meu.
-Bom pelo menos espero, né!
Que esqueçam e que perdoem todas as coisas ridículas que já fizemos frente ao espelho, nós não temos culpa. Quando sozinhos, somos capazes de quaisquer eventos.
-Um beijo pra dimensão espelhada!


Thiαgo Ψ

quinta-feira, julho 21, 2011

• Batom Espalhado

- ♪ The Girls Just Want To Have Fun -


Os cabelos molhados enrolados na toalha, o corpo coberto pelo hobby. Estava ali sentada sob o sofá daquela sala imensa, esperando alguém.. alguma coisa. O celular toca e você vê aquele maravilhoso torpedo chegando, sua amiga.
Quer sair, sábado a noite, os gatos estão a solta, todos querem apenas se divertir, logo aquele roupão é arremessado sobre a cama, os cabelos soltos num movimento centrifugo. O rosto ganha a deslumbrante cor da maquiagem, os cabelos as mais belas ondas já feitas e o vestido mais brilhante de biscate que estava no guarda-roupa foi vestido. Ouvi quando o motor do carro desligou e a buzina cortou o som daquele silêncio, apenas pausado pelas coisas que caiam ao chão naquela pressa de arrumação.
O salto agulha tintilava ao bater no assoalho de taco, mas correndo mesmo assim, pela sala a mão passou ligeira pela bolsa pendurada naquela montoeira. Cheguei o mais rápido que pude ao portão, o som no carro estava alto, a música dizia algo como -As garotas só querem se divertir- não entendi muito bem, pois a voz de quem cantava estava estridente demais, porém aquela energia me contaminou, entrei no carro, minha amiga estava perfeitamente uma Deusa.
Andamos por toda a cidade, as luzes piscando, as biscates batendo seu ponto, e a gente ali, dois seres de almas perdidas, jaz indo por entre ruas e avenidas. O letreiro brilhava, senti profundamente que aquele seria o nosso lugar -The Queen-
- Veja só, até o letreiro combina com a gente! disse minha amiga, em meio ao recolocar dos sapatos vermelhos em seus pés.
Entramos, aquela energia da penumbra foi contaminando todo nosso espírito, aquilo tudo era muito bom, estar ali, ouvindo aquelas maravilhosas músicas, logo já pedi minha taça de Martíni, a noite prometia.
Beijamos, amassamos, chupamos, bebemos, tudo o que poderia imaginar foi feito ali, naquele local, na sua meia luz. De volta ao carro, aquele espírito batia fortemente contra nossa parede material, ele queria transpor, transpassar qualquer matéria, estávamos exaltadas e excitadas.
Paramos o carro em qualquer esquina, não importava mais, já que passava da hora das pessoas decentes estarem em casa descansando. Não nos importamos. Nos pegamos ali mesmo, já sem batom, deixado na boca de quase todos(as) daquela balada. Beijamos ardentemente, vi aquela que considerava minha irmã como um ser sexual totalmente cheio de energia, capaz de me dar prazer como ninguém. Acabamos por chegar na minha casa, a roupa foi ficando pelo caminho, o vestido já rasgado, a biscate estava agora nua. Sofá, cama, mesa, chuveiro,cama, mesa, chuveiro e sofá. Não era amor, era paixão, era fogo que ardia ao se ver, o toque era como o encontro explosivo de grandes forças nucleares. Estava ali agora, rodeada por roxos na boca, nunca e mão. Deitada sobre a cama, descansávamos, nunca tínhamos encarado uma a outra tão sexualmente como aquela noite. Estaria marcado tal feito.
Em nossa pele, em nossa epiderme, em nossa alma. A manhã seguiu-se serenamente, o domingo estava ensolarado, mas não podíamos desfrutar da piscina, pois as marcas da noite anterior, agora eminentes.

Thiαgo Ψ

quarta-feira, julho 20, 2011

• Balanço


Era tarde, os ventos afagavam meus cabelos, eu estava ali sentada sobre aquele balanço, pra lá a pra cá, no sentindo contrário do vento, gostava de sentir o vento secando meus lábios, quase rachando-os, estava frio. O sol vergonhosamente estava escondido por de trás da colina, todos estavam na casa, não conseguia vê-los lucidamente, mas sei que ali estavam. É assim por vezes, não temos a lucidez de vê-los todas às vezes, mas sempre temos a certeza eminente.
Nunca duvidei de outras existências espirituais, e ali sentando sob aquele balanço, onde os ventos contrários despenteavam todo aquele trabalho que mamãe havia tido pela manhã, ao organizar fio por fio. Ali sentada, sempre sentada.
Tive ímpeto de ter visto um pequeno ser ao correr por trás do arbusto, abismei ao pensar que poderia ser alguma víbora venenosa ou alguma criatura de tamanha periculosidade, mas não, estava engana, pois orelhas pontudas foram avistadas assim que a criatura tornou a mexer.
- Um duende! Gritei aos quatro ventos
- Calada! Em meio a um grunhido, ouvi dizer.
-Senti um enorme arrepio por subir em minha espinha, mas já desesperada a ponto de correr. Ele fez um gesto silenciador.
E ali ficamos totalmente parados, admirados com a diferença, com a novidade, algo que antes nunca havia acontecido. Em minha cabeça pairava a grande dúvida. Pude logo perceber que em seus lábios, verdes e sua pele que lembrava os anfíbios, que haveria de existir no mundo, não apenas o mundo
, mas sim o mundo.


Thiαgo Ψ

sexta-feira, junho 24, 2011

• Fogo, Ferro e Fuligem


De minha janela ali estava eu, apoiado sob o parapeito, apoiado sobe todo meu peso, apoiado no cansaço daquela tarde inepta.
Fumava cada cigarro por cerca de uma hora, tragava lentamente tirando o peso de meu interior através da fumaça que meus pulmões lançavam ao ar, canecas e mais canecas de café, meu hálito já pior do que qualquer fumante de longa vida, meus dedos amarelados pelo cigarro e pelo sangue que escorrera das feridas que fizestes, eu ali deitado agora, vendo o dia nascer, por que eu não tinha motivos para dormir, eu não tinha motivos para ver o Sol raiar, mas ali o Sol já estava nascendo, armado de meus óculos escuros eu não queria enxergar as cores do dia, a nublem cobria todo meu espírito, minha fumaça havia sufocado toda a esperança de tentar um dia beijar teus lábios, eu queria apenas teus cabelos por entre meus dedos dando o prazer de domínio, queria engolir a tua essência, fazer enlouquecer todo meu corpo, deixar que minha estrutura tremesse ao sentir teu desejo me invadindo , deixasse que eu lhe desse o prazer carnal, afinal do que adianta?
Eu apenas queria que você se fudesse, ou que me fudesse, por que eu estava afim, eu queria mesmo é tomar uns bons drinks, eu queria me afogar e deixar você com todo peso na consciência!
- Afinal o que você quer?
Se veste de tantos personagens, se caracteriza com tantas mascaras, foges de mim como o tímido reluta ao publico, achas ao acaso que sou apenas mais um que caiu nas garras do filho da puta do destino?
Pois eu digo, não! Eu apenas agora quero que você me deixe, quero apenas poder voar, eu sei que posso, o parapeito de minha janela é pouco perto da minha vontade imensa, ali estava eu, de pé sob o parapés que agora poderia chamar, não adianta minh’alma reluta em meio à fuligem do cigarro, em meio ao vapor de todo aquele álcool, em meio à cafeína possuída dentro de mim, apenas posso dizer adeus!
- O parapeito já não era o limite, agora vôo como um espírito desprendido de qualquer projeção material
.


Thiαgo Ψ

quinta-feira, junho 23, 2011

• Chaminé


A tarde caiu lá fora, e os últimos raios de Sol estavam iluminando o terreiro, lá dentro daquela casinha de sapé sentando a taipa do fogão, onde a lenha queimava e a chaleira avisava que o café poderia ser passado.
Aquele matuto, enrolando seu cigarro começou a contar dos causos que ele vivera até então. Coisas absurdas como Saci, Lobisomem e a cavalaria da meia noite, tudo que ele ali ia contando, ia desfazendo cada nó das suas apertadas botas, daquele extremo cansaço do dia, ia contando, seus olhos transmitiam toda a fé que um roceiro poderia ter, ele não conhecia a gramática da língua mãe e muito menos os esplendorosos cálculos algébricos, mas ele tinha a fé que nenhum outro ser humano pode ter, ele contava, seus olhos arregalados medrontos, mas também estava ali querendo que todos soubessem que ele já viu o saci vindo pela rua assoviando e quando passava em frente a igreja, ele parava, quando se distancia pouco daquele local sagrado, novamente ouvia-se o assovio arrepiador do Saci.
Isso ainda era pouco perto do que ele vivenciara, quando saia da festa da igreja a meia noite e atravessando o passeio, ouvia os cascos dos cavalos batendo ao chão de terra vermelha, terra da qual nascera, terra na qual jaz ira um dia.

Thiαgo Ψ

quarta-feira, junho 08, 2011

● Auto Suficiente


Sou tão gélido quanto uma pedra de mármore ao inverno.
Meu amor próprio é o que me aquece
Minha sentinela é minha confiança
Confio tudo naquilo que sou,
mas nem sempre sou aquilo tudo que confio,
Não me sinto desprotegido, ando entre garras,
Me apego naquilo que sou
Sou meu próprio Deus, crio minhas verdades
Deito-me na minha fé
Meu discurso ego centrado,
Meus argumentos plausíveis, sempre na expectativa,
Sou como você me vê.
Ando sobre as pedras da desconfiança
Me equilibro sobre a linha da desilusão
Sobrevivo ao frio e ao fogo
forjado no ferro, ardente serenata.
Sou como você me vê.

Thiαgo Ψ

domingo, maio 29, 2011

• Selva de Pedra


Amanhecia assim como qualquer outro dia em São José dos Campos, rapidamente lembrei que deveria estar em cinco minutos no serviço, que era do outro lado da cidade. Apressei-me e desci correndo as escadas ao encontro das chaves de meu carro, finalmente consegui sair de casa, agora mais tranquilo por estar a caminho do serviço.
Nas ruas percebi que os prédios tomavam conta da paisagem e quenem ao menos uma vez os raios de Sol incidiram sobre meu veiculo, tudo estava tampado por enormes prédios, o barulho das buzinas, a gritaria, animais em pleno transito.
Cheguei ao escritório e sobre a minha mesa, papéis e mais papéis,plantas de enormes arranha-céus que estavam sendo averiguadas para que fossem construídas, mas algo em especial chamou-me atenção , um projetoque seria aprovado: “A Derrubada das Palmeiras Imperiais” que estão no Parque da Cidade, há décadas, para que no local possam construir uma usina
e isso traria muitos empregos e benefícios a região. Minha avó todos os dias trabalhava na falida tecelagem e então para que minha mãe não se perdesse, pedia para que se seguisse o caminho ao longo das Palmeiras, levando direto à escola, e ao fim do dia, minha mãe voltava pelo mesmo caminho ao longo das Verdes viçosas, e ambas voltavam pra casa com mais um dia encerrado.
Agora querem destruir um local de memórias não só minhas, mas de todos que passaram por lá e deixaram suas frases, suor, lágrimas e rastros.Todos aqueles que por ali se orientavam, todos aqueles não teriam mais para onde olhar e sentir suas lembranças arderem em brasa.
Tratei logo de amontoar todos aqueles pedidos para a derrubada da árvore e ordenei a secretária para que mandasse de volta aos remetentes de origem, não seria possível, pois não haveria empregados suficientes com capacidade para trabalhar na usina e reiterei que poderia ser investida essa verba em educação para que no futuro possamos ter jovens capacitados.
Jamais seria capaz de apagar as memórias que aquele local preservou durante tanto tempo e sempre não há de adiantar uma cidade que tem lucros excessivos, mas que ignora seu patrimônio histórico e que a qualquer dia
haverão de estudar e saberão que nossa terra tem histórias, lembranças e o verde dos esperançosos campos que aqui jaz iram.


Thiαgo Ψ

quinta-feira, março 31, 2011

• Tudo Diferente.


"Às vezes a gente acorda e esquece de levantar"

Hoje houve aquela coisa diferente pela manhã, aquela coisa complicada de dizer, que a gente acorda e esquece de levantar, esquece de colocar o ponto final no ontem e passar pro hoje, pro agora.
Isso me deixou no extremo pensamento de reflexão, de melancolia e até mesmo uma dose de endorfina percorreu meu corpo.
O pensamento extasiado, lembrando simplóriamente do deserto de sentimentos que finalmente deixou inundar, deixou-se molhar e assim e só assim passará a florir por longos dias e talvez anos. Somente neste dia, hoje, ano pós ano, as veredas sertanejas de meu coração foram inundas pelo mais docê correr de águas que avassalou toda a estrutura.
O Sol finalmente deixou de brilhar e passou a radiar. É como se não houvesse hoje, apenas vivendo esse momento diferente em que tudo mudou e que sim algo está acontecendo, levo comigo o semblante de doçura e anseio.

Thiαgo Ψ